Piauí: a porta de entrada
        Se queremos falar de matemática, comecemos pelo princípio.
Que princípio? A origem de tudo,
a primeira manifestação da matemática entre os humanos, possivelmente os sistemas de contagem dos povos
egípcios e babilônios, e suas representações escritas. Mas o que estaria por trás destas representações?
Haveria, antes disso, uma outra forma de expressão matemática? Em algum outro tempo, em algum outro lugar,
haveriam outros modos de expressão através de inscrições? Seguir os rastros para encontrar as origens é
uma busca infundada porque não há origem. Há apenas infinitos de caminhos em retrocesso.
        Partimos então para uma outra estratégia: perceber a necessidade humana de fazer
representações que acompanham as vidas em seus tempos. Buscando nossos antepassados, vamos às pinturas rupestres
do Piauí, Parque Nacional Serra da Capivara,
Patrimônio Mundial da Unesco. Cientistas brasileiras estimam que
estas inscrições datam cerca de 13000 a.C.
        A contragosto dos pesquisadores estaduinenses (Guidon 1996)
que defendem que a entrada nas Américas ocorreu pelo local onde hoje está o Estreito de Bering e que a
ocupação das Américas se deu onde hoje estão os Estados Unidos, as pesquisas das cientistas brasileiras
apontam que ali no Piauí houve um foco de ocupação humana nas Américas há cerca de 100.000 anos, portanto
anterior às evidências norte-americanas.
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Estabeleceu-se uma controvérsia envolvendo discussões na ciência, um campo em
que nós, brasileiros, e principalmente nós, brasileiras, ocupamos um papel de desprestígio.
        O pesquisador Manoel Silvestre Friques percebeu que os pesquisadores
estaduinenses insistem em demarcar a primazia de seu país na presença humana no continente da mesma forma como insistem
em demarcar o papel dos Estados Unidos com centro irradiador da arte moderna. Ele considerou "sintomática" a insistência:
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        [O] argumento arqueológico é, de certo modo, análogo ao argumento historiográfico e
crítico da arte: ambos reforçam este país enquanto locus da avant-garde, seja da humanidade, seja da arte.
(Friques 2017 p. 15)
“’EUA first’ (ou ‘America First’, diria Donald Trump)”. (Friques 2017 p. 14-16)
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        Os estudos das cientistas brasileiras nos apresentam uma
riqueza de argumentos e, segundo outros cientistas (Esteves 2013),
evidências muito forte de sua plausabilidade. Por este motivo, para nós, a porta de entrada para
a história da humanidade nas Américas é o Piauí, na altura do delta do Parnaíba. Vamos buscar possibilidades
matemáticas nas expressões dos primeiros habitantes do Brasil.
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