Duas formas de apresentação da matemática |
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        Sendo “matemática” palavra de origem grega, “matemathike”, onde “máthema” significa compreensão, explicação, ciência, conhecimento, aprendizagem e “thike” significa arte ou técnica de acordo com o dicionário etimológico, houve quem argumentasse que matemática é essencialmente uma criação grega, uma confusão provocada pela etimologia do termo posteriormente adotado e um processo de criação cujo início coincide com a presença humana no mundo. No entanto, como verificou Arquimedes, a matemática dedutiva é uma forma de apresentação e portanto pressupõe um processo de criação de conceitos. A apresentação procedimental da matemática reflete esse processo de criação, aproximando a matemática do problema que se propõe a resolver. Em função desta aproximação com a vida, a apresentação procedimental foi sendo gradualmente subjugada como uma prática primitiva, uma matemática não evoluída, desvalorizada. Este panorama complexo atendeu a uma certa configuração de poder que se instituiu ao longo da antiguidade grega que valorizava o intelecto e a razão, como Platão explicita n’A República: | |||||||||
Sócrates — Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades, ou aqueles que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeira e seriamente filósofos, enquanto o poder político e a filosofia não convergirem num mesmo indivíduo, enquanto os muitos caracteres que atualmente perseguem um ou outro destes objetivos de modo exclusivo não forem impedidos de agir assim, não terão fim, meu caro Glauco, os males das cidades, nem, conforme julgo, os do gênero humano, e jamais a cidade que nós descrevemos será edificada. Eis o que eu hesitava há muito em dizer, prevendo quanto estas palavras chocariam o senso comum. De fato, é difícil conceber que não haja felicidade possível de outra maneira, para o Estado e para os cidadãos. (Platão, 1997, p.180-181) |
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        A Ciência de Estado está sempre acompanhada da ciência nômade. Ainda mais, nenhuma delas se sustenta sozinha. Foi o que percebeu Arquimedes no campo da matemática ao pedir a Erastóstenes a demonstração de seus resultados. Deleuze & Guattari (2012 p. 228), mencionando o espaço liso como lugar da ciência nômade, advertiram: “Jamais acreditar que um espaço liso basta para nos salvar”. |
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Um pedaço de sobra de pano,
um plano, um plano que se torce sobre si ganhando, além de uma nova dimensão, uma outra topologia, não orientável, que identifica o interior ao exterior e vice-versa, como fazemos nós, humanos e fuxiqueiros, com nossos universos dentro de nossas cabeças. O leva e traz que se redobra e franze e que mostra as suas dobras que plano, esconderia, torna e retorna, como vento levado, em espirais distraídas nas voltas que sempre em roda se constituirão. O fuxico é uma tentativa que se realiza em suas possibilidades, é a humanidade que se descreve na construção matemática de um espaço projetivo, com suas 4 dimensões sonhadas e seus infinitos continuamente humanos. |
        Um dos fundadores da Ciência da Computação Donald Knuth, ainda em tempos de afirmação da computação como uma ciência, percebeu que “[u]ma das maneiras de ajudar a tornar a ciência da computação respeitável é mostrar que ela está profundamente enraizada na história, não apenas em um fenômeno de curta duração” (Knuth, 1972, p.671). Com essa justificativa ele se dispôs a estudar a matemática babilônica para perceber semelhanças com a matemática algorítmica da computação. Knuth concluiu: |
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Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia UFRJ |
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